Feevale forma oito alunos com necessidades específicas
Acessibilidade é busca permanente da universidade
Crédito: Ana Knevitz/Universidade Feevale
Alunos da Universidade Feevale que tenham algum tipo de deficiência ou apresentem questões diferenciadas de aprendizagem contam com uma estrutura específica de atendimento desde o instante em que se inscrevem para o vestibular até a formatura. O trabalho é prestado pelo Núcleo de Apoio à Inclusão e Acessibilidade (Naia), responsável pelo acolhimento desses estudantes e por dar condições adequadas para que a trajetória acadêmica transcorra sem sobressaltos, de maneira segura e digna. No atual ciclo de colação de grau, há formandos com deficiência auditiva (1), deficiência física (2) e baixa visão (5).
Conforme a coordenadora do Naia, Patricia Mendel, o núcleo atende a pessoas que tenham dislexia, transtorno de déficit de atenção, hiperatividade, transtorno de aprendizagem, transtorno do espectro autista, altas habilidades/superdotação e questões de saúde mental, assim como pessoas com algum tipo de deficiência (física, intelectual, auditiva, surdez, baixa visão e cegueira).
Depois que o candidato realiza sua inscrição para o vestibular, um funcionário entra em contato com o objetivo de identificar as providências necessárias. Por exemplo: na prova, alunos cegos contam com o acompanhamento de um leitor em uma sala reservada para que possam ditar as respostas, e quem apresenta alguma dificuldade motora tem à disposição um computador adaptado.
O acompanhamento se intensifica depois da matrícula. Antes do início de cada semestre, a equipe do Naia identifica as disciplinas em que os alunos com necessidades específicas ou deficiências se inscreveram, verificando a adequação das salas ou dos laboratórios reservados para as atividades. Caso não esteja de acordo com as demandas dos alunos, outro espaço é designado. “A Feevale prima pela garantia das condições de acesso à universidade a todos que buscam o seu desenvolvimento a partir de um curso superior”, afirma a pró-reitora de Ensino, Angelita Renck Gerhardt.
Outro procedimento feito é a elaboração de uma escala com os intérpretes, para que estejam presentes em todas as aulas dos alunos surdos ou com baixa audição, que também podem solicitar o acompanhamento dos profissionais quando precisam de atendimento em algum setor da universidade. Para uma das formaturas que ocorrem no início de 2019, uma aluna cega tem convidados surdos, então pediu a participação de um intérprete na cerimônia.
Antes de começarem as aulas, o Núcleo procura os coordenadores de cursos e professores alocados nas disciplinas em que há alunos com necessidades específicas matriculados, para combinar que o material e as dinâmicas contemplem as especificidades de cada um. Por exemplo: se um vídeo será enviado à turma, antes grava-se um intérprete de Libras apresentando o conteúdo, e esse material é inserido em uma janela no vídeo original.
“Isso é feito com antecedência, então precisamos contar com a colaboração e o planejamento de todos”, comenta Patricia. Caso haja dúvida em relação a como proceder no trato com alunos que tenham necessidades específicas, a estrutura do Naia está à disposição do professor. E se o estudante tiver alguma dificuldade de aprendizagem, pode solicitar o acompanhamento de uma psicopedagoga da universidade.
Alunos que ingressam na universidade com lacunas relativas à trajetória escolar são encaminhados pelo Naia aos Programas de Nivelamento, a fim de suprir conhecimentos relativos à educação básica. O objetivo é promover novas aprendizagens, de maneira que o universitário compreenda os conceitos trabalhados em sala de aula. Esse apoio destina-se a quatro grandes áreas: Biologia, Língua Portuguesa, Matemática e Química.
Acessibilidade no câmpus
No segundo semestre de 2018, estavam matriculados na Feevale alunos com deficiência física (35), surdez (4), deficiência auditiva (18), baixa visão (21), cegos (2), deficiência intelectual (1) e autismo (2). Para garantir uma experiência acadêmica sem sobressaltos, a universidade tem acessibilidade em praticamente 100% do câmpus.
Isso se traduz, por exemplo, em piso tátil para indicar o trajeto a ser seguido por alunos cegos ou com baixa visão, banheiros adaptados, portas alargadas para passagem de cadeira de rodas, rampas, elevadores, corrimão, postes com contrastes para que possam ser percebidos por alunos com baixa visão e softwares adaptados (entre eles, o sistema de busca de livros da biblioteca). A acessibilidade também é possibilitada pela orientação e acompanhamento de professores e pela formação da equipe que acolhe os alunos.
Um conceito que orienta o trabalho do Naia é o estímulo à autonomia e à independência dos alunos. A equipe incentiva que os acadêmicos com deficiência se desloquem sem acompanhamento, por isso sempre há melhorias na acessibilidade. “No entanto, se um aluno necessitar, pode contar com o auxílio dos funcionários”, garante Patricia.
Além do planejamento feito pela universidade, o que contribui para o elevado índice de acessibilidade do câmpus são as demandas encaminhas pelos próprios alunos. Por solicitação deles, foi adquirida uma máquina Braille, que estará disponível quando as aulas começarem no final de fevereiro. “Os alunos nos dão retorno, e com isso conseguimos fazer mais mudanças”, afirma Patricia.
Oradora cadeirante
A inclusão também se faz pelo olhar atento dos funcionários aos casos especiais que surgem. No dia 2 de fevereiro, às 20h30min, ocorrerá no Teatro Feevale a formatura do curso de Jogos Digitais. A turma escolheu como oradora Monique Reis de Oliveira, 23 anos, que é cadeirante. Por conta da sua condição, a equipe do Naia a procurou, a fim de verificar as providências que a universidade deveria tomar para que a cerimônia transcorresse da melhor maneira.
A princípio, a formanda disse que não precisava de nada, mas os funcionários lembraram que ela teria dificuldade com o púlpito utilizado para a leitura do discurso. Resultado: como o princípio que rege as ações da universidade é o da inclusão, em uma semana, ela foi chamada para conversar com a equipe da Oficina Tecnológica da universidade, que construiu um móvel adaptado às necessidades de uma pessoa cadeirante. “Ficou show de bola, perfeito”, avalia. “Para além das obrigações legais, a universidade busca, de forma criativa e inovadora, oferecer um espaço acolhedor e digno, garantindo que o estudante possa permanecer e concluir seu curso superior”, comenta a pró-reitora Angelita.
“Na Feevale, conquistei minha liberdade”
Monique ficou muito feliz com a construção do púlpito, mas não se surpreendeu. “Sempre tive que me adaptar, dar um jeito e me virar nos outros lugares. Era muito difícil. A Feevale foi a primeira instituição que se adaptou para mim. Na Feevale, conquistei minha liberdade”, afirma.
Ela teve provas da nova realidade já no início da graduação, em 2014, quando não conseguia encaixar a cadeira de rodas nas mesas dos laboratórios. Relatou a situação para o Naia e ouviu que isso estaria resolvido até o próximo semestre. Para seu espanto, o prazo foi bastante abreviado: em uma semana, todas as salas do curso tinham uma mesa adaptada à necessidade de Monique.
A oradora da turma de Jogos Digitais viveu anos intensos na instituição, tendo participado do Diretória Central dos Estudantes (DCE) e presidido o Diretório Acadêmico do seu curso. “Espero que eu sirva de exemplo, para que mais pessoas usem a Feevale para fazer uma grande trajetória”, diz. Ela se sente tão realizada que não pretende deixar a universidade e já tem claro os próximos passos: fazer mestrado e depois lecionar na universidade. “Fui muito bem recebida desde o início e quero ficar aqui”, projeta.