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Pinhão: recurso-chave para a conservação da fauna silvestre

Estudo evidencia a importância das sementes de Araucária e conta com pesquisadores do mestrado em Ciências Ambientais da UPF
Estudo realizado por pesquisadores brasileiros e espanhóis evidencia o fato de que o consumo de sementes do pinheiro-brasileiro (Araucaria angustifolia) por espécies exóticas – a exemplo da lebre europeia, bovinos, equinos e javali – vem comprometendo a regeneração dessa espécie ameaçada de extinção. A pesquisa foi realizada em quatro regiões do sul e sudeste do Brasil, onde há maior incidência e remanescentes das Florestas com Araucárias, avaliando o consumo de pinhões e plântulas do pinheiro-brasileiro pela fauna, tanto silvestre quanto exótica.
O estudo contou com a participação de pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PPGCiAmb) do Instituto de Ciências Biológicas, da Universidade de Passo Fundo (UPF), além de estudiosos da Divisão de Biologia da Conservação da Estación Biológica de Doñana (Espanha) e do Departamento de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
O professor Dr. Jaime Martinez, que integrou a equipe de pesquisadores pelo PPGCiAmb/UPF, e a professora Dra. Nêmora Pauletti Prestes, pelo Departamento de Vida Silvestre da Associação Amigos do Meio Ambiente (AMA), comentam que os resultados do estudo reforçam a importância dos pinhões na alimentação de uma expressiva comunidade de animais silvestre da Mata Atlântica.
O estudo
Buscando ter uma boa representatividade da fauna associada ao pinheiro-brasileiro, as pesquisas de campo contemplaram áreas no entorno do Parque Estadual de Campos do Jordão, em São Paulo, no planalto de Santa Catarina, onde o Projeto Charão (AMA-ICB/UPF) atua na conservação do papagaio-charão e papagaio-de-peito-roxo, e no Rio Grande do Sul, em áreas da Estação Ecológica de Aracuri (Muitos Capões) e do município de São Francisco de Paula.
Conforme o professor da UPF, na metodologia utilizada pelos pesquisadores, a avaliação foi realizada sob a copa de 520 exemplares de pinheiros fêmeas, produtoras de sementes, registrando pinhões predados e não predados junto ao solo, e contando com o auxílio de armadilhas fotográficas. “Entre os principais resultados do estudo, está o fato de que 98% das árvores pesquisadas receberam a visita de animais predadores ou dispersores das sementes, evidenciando a forte interação que a Araucária mantém com a fauna silvestre”, aponta Martinez.
Um dos dados que chamou a atenção dos pesquisadores foi a diversidade de animais nativos que se mostraram consumidores ou potenciais consumidoras do pinhão: 70 espécies, sendo que muitas foram citadas pela primeira vez em estudos científicos. “A pesquisa também evidenciou que 60% dos pinheiros receberam a visita de, pelo menos, um mamífero não nativo da fauna brasileira, como é o caso de animais de criação, a lebre europeia e o javali”, comenta o pesquisador.
O pinhão, segundo ele, é um recurso-chave na conservação de animais que se alimentam diretamente dele, e pela cadeia alimentar de muitos animais carnívoros, incluindo os grandes predadores entre as aves e os mamíferos. “A grande preocupação gerada pelos resultados é o fato de mais da metade dos pinheiros que integraram a amostra do estudo terem sido visitados por mamíferos exóticos como os bovinos, os equinos, a lebre europeia e o javali”, cita o professor, destacando que esses animais consomem sementes e plântulas da Araucária, diminuindo as possibilidades de regeneração da Floresta com Araucária e, com isso, diminuem a disponibilidade de alimento para os animais nativos.
O estudo foi publicado na revista científica Biological Invasions, de abrangência internacional, que divulga trabalhos de pesquisa sobre padrões e processos de invasões biológicas em ecossistemas naturais, na edição de maio de 2018. O artigo pode ser acessado na íntegra aqui. https://link.springer.com/article/10.1007%2Fs10530-018-1758-4
O Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais
O PPGCiamb promove estudos sobre a conservação da biodiversidade e fatores de ameaça, princípios éticos e filosóficos da relação sociedade-natureza, conflitos socioambientais e política ambiental. O Programa está com inscrições abertas para a modalidade de mestrado acadêmico, até o dia 30 de maio. Mais informações, no site do PPGCiamb, em upf.br/ppgciamb.