Região Norte do RS constrói rede de cidades educadoras e inteligentes
Das cinco cidades educadoras do Rio Grande do Sul que compõem a lista da Associação Internacional de Cidades Educadoras (AICE), três estão na região Norte do Estado. Nos últimos quatro meses, os municípios de Soledade, Marau e Carazinho conquistaram o título na região e outras estão em andamento. Conquistas que só foram possíveis em razão do trabalho do poder público, da comunidade e da assessoria da Universidade de Passo Fundo (UPF), por meio do Programa UniverCidade Educadora e do Projeto de Extensão Gestão da Educação: o feito, o necessário e o possível. Soledade, pioneira neste processo, recebeu o certificado oficial na quinta-feira, 29 de agosto, durante o II Encontro sobre Cidades Educadoras e Inteligentes, realizado no Centro Cultural de Soledade.
O prefeito do município, Paulo Ricardo Cattane, está ciente da responsabilidade que Soledade assumiu ao aceitar os 20 princípios da Carta das Cidades Educadoras, tornado essa conquista um marco na história do município. “É um projeto que vai além do espaço físico das escolas. A ideia é levar a educação para a nossa cidade como um todo. Muitas vezes, entendemos, de maneira equivocada, que a educação está apenas no lar e na escola, mas não. Temos que nos portar como pessoas educadas na família, na escola e na sociedade”, declarou o prefeito.
E esse desejo de ser cidade educadora não pode ser apenas de um governo, tem que ser um projeto da sociedade. “A rede de cidades educadoras iniciou uma aproximação com a UPF há dois anos e em conjunto com as cidades educadoras do Rio Grande do Sul iniciamos um trabalho de contato, encabeçado pela Universidade. Isso é muito valioso porque permite às cidades trabalharem juntas e pensar na importância da educação, e em especial a educação formal. Então, é muito importante esse pontapé inicial e esperamos um bom trabalho. Lembrando que cada um tem muito a contribuir para transformar a cidade em um território educativo. Cidade educativa não é um projeto de governo, é da cidade”, ressaltou a diretora da AICE, Laura Alfonso.
Mas afinal, o que é uma cidade educadora? Uma cidade educadora só se constrói com e para as pessoas. Essa é a opinião da professora Dra. Jaqueline Moll (UFRGS), uma das conferencistas da abertura do Encontro, realizado em Soledade. “Cidade educadora é uma utopia, porque é uma construção que tem a ver com conversar e escutar as pessoas”, salientou a professora.
Mais de 480 cidades de cinco continentes estão na lista de associadas da AICE. No Brasil, são cerca de 20. “Essa experiência na região Norte do estado tem sido única, um marco da Rede Brasileira de Cidades Educadoras. É um conjunto de cidades vizinhas trabalhando com os princípios das cidades educadoras com um impacto regional. É algo que não tivemos em outras partes do Brasil, porque as cidades educadoras ficam dispersas uma das outras. Quando as cidades estão próximas e trocam experiências já constroem uma potência territorial. Vocês estão fazendo escola e é um aprendizado que precisamos levar para o resto Brasil”, revelou o coordenador técnico da Rede Brasileira de Cidades Educadoras (RBCE), Ramires Mauricio Brilhante.
Universidade fomenta construção de rede na região
O trabalho para criar esta rede de cidades educadoras na região iniciou há cerca de uma década na UPF, consolidando-se neste ano. Neste percurso, a Universidade, por meio de parcerias com as secretarias de Educação, desenvolve projetos de formação continuada para os professores do Sistema Municipal, promovendo debates e cooperando para a construção de políticas públicas, além de fazer a interlocução com a AICE. “As cidades educadoras são uma conquista para a região e para a Universidade, fruto deste trabalho ao longo de 10 anos. Além de Soledade, Marau e Carazinho, que já conquistaram o título, a cidade de Camargo também se candidatou e está prestes a se tornar uma cidade educadora”, lembrou o assessor da Vice-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (VREAC) e membro do Movimento Brasileiro de Cidades Educadoras, professor Dr. Marcio Tascheto.
Esse título das cidades educadoras não é o resultado final, mas apenas o começo de um trabalho. Pensar na educação, para além daquela presente no meio familiar e escolar, é reconhecer a potencialidade de avançar em todos os espaços, seja na mobilidade urbana, seja na construção de espaços de lazer ou nas discussões da sociedade. “Nas cidades educadoras as pessoas querem mais do que a cidade já é. É querer que a cidade seja território educativo, que dialogue com os outros setores, pensando na qualidade de vida da população”, comentou a coordenadora do UniverCidade Educadora e Inteligente, professora Dra. Eliara Levinski.
A Universidade quer ajudar a formar outras cidades educadoras, criando uma grande rede de cidades educadoras e inteligentes na região Norte do RS. “O conceito de cidades educadoras transcende a educação formal, pensa todos os espaços como educadores para e com as pessoas. Os princípios da carta fazem pensar a partir das nossas práticas, quer seja na saúde, na infraestrutura, no trânsito. Todos os espaços são permeados por atos que podem ser educadores ou não. Uma cidade e um mundo melhor precisa ser feito com a participação de todos e todos precisam ter espaço”, enfatizou a reitora da UPF, professora Dra. Bernadete Maria Dalmolin.
Soledade sediou maior evento da rede no Brasil dos últimos anos
O II Encontro sobre Cidades Educadoras e Inteligentes: Construindo Territórios Educativos, ocorre de 29 a 30 de agosto, em Soledade. O evento visa promover, qualificar, difundir e aprofundar a concepção de cidade educadora e inteligente como uma estratégia de desenvolvimento urbano e social nas cidades do norte do Rio Grande do Sul. O Encontro é promovido pela UPF, por meio do Programa UniverCidade Educadora e Inteligente, juntamente com os municípios de Soledade e Marau.
A solenidade de abertura foi realizada na noite de quinta-feira, 29 de agosto, bem como a conferência “A cidade com e para as pessoas”, com a participação da professora Dra. Jaqueline Moll (UFGRS) e do vice-presidente da Rede Brasileira de Cidades Inteligentes e Humanas, Me. Carlos Fress; sob a mediação do professor da UPF Dr. Márcio Tascheto.
Além de diversas autoridades e pessoas que ajudaram no projeto das cidades educadoras na região, também estiveram presentes na solenidade o secretário de Cultura e Educação de Rosário/Argentina, Dr. Guillermo Ríos, o coordenador técnico Rede Brasileira de Cidades Educadoras, Ramires Brilhante e a diretora da AICE, Laura Alfonso. “Fizemos diversos eventos da Rede no Brasil, que alcançaram 150, 200 pessoas, mas nunca com 400 pessoas. Esse é o maior evento da Rede dos últimos 10 anos no Brasil. A região está fazendo escola”, assegurou o coordenador técnico Rede Brasileira de Cidades Educadoras.
Encontro com lideranças
Durante à tarde de quinta-feira, o prefeito e a secretária de Educação de Soledade, Ádria Brum de Azambuja, receberam representantes da UPF, os líderes do movimento de Cidades Educadoras e lideranças regionais. As atividades em Soledade, além de contar com a participação da reitora da UPF, Bernadete, e dos professores Tascheto e Eliara, tiveram a presença do vice-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários, Dr. Rogerio da Silva, da coordenadora da Divisão de Extensão, Dra. Adriana Bragagnolo, do diretor da UPF Soledade, Me. Idioney Oliveira Vieira, da diretora da UPF Carazinho, Munira Awad, da coordenadora do projeto Circulando Cidadania, professora Me. Daniela dos Santos e do coordenador do projeto Cidades Inteligentes, professor Dr. Roberto Rabello.
Fotos: Natália Fávero