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Fórum COMUNG: Luiz Roberto Liza Curi convida à reflexão sobre desafios do ensino superior brasileiro na pós-pandemia

O sociólogo e economista, membro do Conselho Nacional da Educação e do Conselho Superior da Capes, falou para docentes e gestores da educação na abertura do IX Fórum de Gestão e Inovação do COMUNG, sediado pela UCS. 

Menos ‘conteudismo’ e mais qualificação de processos inovadores e da formação da autonomia intelectual. A necessidade foi compartilhada pelo sociólogo e economista Luiz Roberto Liza Curi com gestores e educadores do ensino superior que acompanharam a abertura oficial do IX Fórum de Gestão e Inovação do COMUNG, que iniciou nesta quinta-feira (25) e segue até sexta-feira (26) na Universidade de Caxias do Sul (UCS).

Membro do Conselho Nacional da Educação e do Conselho Superior da Capes, Curi explicou como os processos avaliativos e regulatórios que regem as ações das Instituições de Ensino Superior, com a função de orientar suas atividades, causam, muitas vezes, o recolhimento da capacidade de inovação nesses mesmos espaços.

“Cabe a reflexão: será que limitamos o processo inovativo pelo excesso de zelo no cumprimento de avaliações e regras externas?”, provocou Curi.

A pandemia, segundo o palestrante, afetou o cenário do ensino superior, levando a um baixo teor de inovação no processo de aprendizado, além de ocasionar altos índices de desistência nos cursos de graduação, tanto em instituições públicas como privadas, em ofertas presenciais e EAD.

Para ele, é preciso refletir sobre as responsabilidades que cabem às universidades nesse cenário de desestímulo ao ensino, mas também sobre o papel dos processos regulatórios que limitam a atuação e capacidade de criar e inovar das instituições.

“Uma atuação universitária de excelência está mais ligada às transformações que provoca do que à manutenção das práticas vigentes”, acrescentou.  “Precisamos desafiar as estruturas curriculares e baseá-las em competências, não em conteudismo. O Conselho Nacional de Educação (CNE), em conjunto com o Ministério da Educação, tem se dedicado, junto às entidades de ensino, a qualificar a formação a partir desse posicionamento. Novos modelos de ensino foram colocados em prática na pandemia, e devem não apenas ser mantidos, como aperfeiçoados”, contextualizou.

Em sua explanação, o conselheiro do CNE afirmou que o esforço coletivo de entidades como o COMUNG, inclusive pela sua relevância social, deve focar na superação das limitações para a qualificação da formação acadêmica, contando, para isso, com processos regulatórios que qualifiquem o ensino.

“As universidades comunitárias, desde sempre, entendem que suas ações precisam gerar impactos positivos para a comunidade em que estão inseridas. Podemos aprender muito ouvindo e observando a atuação de entidades como o COMUNG”, destacou.

Cabe destaque para o trabalho desenvolvido pelo CNE na crise gerada pela pandemia, voltado a ampliar a capacidade de gestão das Instituições Comunitárias Ensino Superior (ICES). Como exemplo, as as diretrizes para orientar desde escolas da educação básica a instituições de ensino superior.

A palestra foi mediada pelo reitor da UCS e presidente do COMUNG, Evaldo Antonio Kuiava, que também citou o desafio enfrentado pelas ICES em integrar ofertas de ensino, em parte por limitações impostas pelas normas regulatórias. Kuiava também reafirmou o compromisso das universidades integrantes do COMUNG com a inovação e o ensino de excelência. “Empregamos esforços para ampliar as conexões com todos os setores sociais e maneiras de buscar, cada vez mais, o desenvolvimento social das comunidades em que atuamos”, afirmou.

Na abertura do Fórum, de forma virtual, diversas autoridades do ensino superior brasileiro parabenizaram o COMUNG pelo encontro, assim como pelos 25 anos de existência da entidade. Elizabeth Guedes, presidente da Associação Nacional das Universidades Particulares (Anup), destacou o Rio Grande do Sul como estado protagonista na manutenção de ambientes de ensino superior direcionados à inovação.

Aristides Cimadon, reitor da Unoesc e presidente da Associação Catarinense das Fundações Educacionais (ACAFE), afirmou que oportunidades como o Fórum são fundamentais para traçar caminhos de fortalecimento das IES no que tange à inovação.

Lia Maria Herzer Quintana, reitora do Centro Universitário da Região da Campanha (URCAMP) e presidente do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB), destacou a trajetória do COMUNG de luta por um ensino de qualidade desde a sua fundação.

O evento também apresentou ao público um vídeo comemorativo aos 25 anos do COMUNG, que se configura como uma rede de educação, ciência e tecnologia, composto por Universidades que atuam no estímulo ao desenvolvimento do RS há mais de 50 anos por meio da formação profissional de alta qualidade, da pesquisa científica e de milhares de ações de inserção comunitária.

Sobre o Palestrante

Sociólogo e Doutor em Economia, ambos pela Unicamp. É Conselheiro do Conselho Nacional de Educação, com mandato até 2024, foi Presidente da Câmara de Educação Superior por dois mandatos (2016 a 2018) e Presidente do Conselho de 2018 a 2020. É membro do Conselho Superior da Capes.

Entre outras atividades: Foi Presidente do INEP, Diretor Geral de Políticas de Educação Superior do MEC, Secretário de Cultura de Campinas, Presidente da Companhia do Polo de Alta Tecnologia de Campinas, Diretor Geral de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, pesquisador e Analista Sênior em Ciência e Tecnologia do CNPq. Foi também membro do Conselho Superior da Unicamp, Presidente do Conselho de Patrimônio Histórico e Arquitetônico de Campinas, membro do Conselho Nacional do IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Arquitetônico Nacional.

Sobre o Fórum

O IX Fórum de Gestão e Inovação do Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas – COMUNG fomenta o debate sobre a Universidade Comunitária Inovadora enquanto DNA do Ensino Superior. O tema será compartilhado em palestras, pitch de inovação, elaboração de projetos de empreendedorismo, troca de experiências e compartilhamento de soluções para tornar mais inovador o ensino universitário.

O objetivo do encontro, de forma geral, é socializar experiências nacionais e internacionais que envolvam as novas tecnologias educacionais, a formação empreendedora, as adaptações no período de pandemia e a relação das Instituições Comunitárias de Ensino Superior (ICES) com a sociedade e a inovação. O Fórum também procura disseminar a cultura da inovação e empreendedorismo com base em alianças estratégicas.

Força-tarefa para fortalecer o protagonismo das Instituições Comunitárias na sociedade

A programação do primeiro dia do Fórum iniciou ainda pela manhã. Às 10h, na Sala Florense do Campus-Sede da UCS, teve espaço reunião dos agentes das Instituições Comunitárias de Ensino Superior (ICES) do Comung e equipe da Acafe (Associação Catarinense das Fundações Educacionais).

O grupo teve acesso a esclarecimentos sobre o andamento da parceria entre a Acafe e COMUNG, a Plataforma de Inovação das Instituições Comunitárias de Santa Catarina, que tem o intuito de consolidar o protagonismo das ICES Comunitárias no cenário estadual e, posteriormente, nacional.

O encontro marcou o encerramento da primeira fase dos trabalhos. Adriano Rodrigues, assessor de relações institucionais e governamentais do sistema ACAFE, conduziu a explanação sobre as atividades realizadas nessa etapa pela equipe da Associação, em conjunto com as Universidades ligadas ao COMUNG. As ações se traduziram no extenso mapeamento da estrutura das ICES, passando por gestão e identificação de competências e ecossistemas de inovação.

O trabalho realizado até o momento foi decisivo para a implantação de uma plataforma integrada com informações sobre as ICES Comunitárias e suas potencialidades em tecnologia e inovação. O sistema é um aliado na tarefa de captar investimentos e parcerias público-privadas, reafirmando o protagonismo social.

Presidente do COMUNG e reitor da UCS, Evaldo Antonio Kuiava, agradeceu a presença das equipes no encontro, de forma presencial e on-line, valorizando a parceria e troca de experiências com a ACAFE. “Trabalhamos em conjunto, temos a mesma causa e vamos evoluir muito no posicionamento das comunitárias a partir do trabalho compartilhado com a Associação no reposicionamento das Universidades Comunitárias”, destacou.

O professor Cleber Prodanov, reitor da Feevale e 2º vice-presidente do COMUNG, ressaltou o desconhecimento da sociedade sobre a modalidade comunitária de instituições de ensino superior. “A plataforma é um passo para consolidar o consórcio perante o governo, associações e entidades ligadas a setores da economia e sociedade”, considerou.

A segunda fase do projeto terá a ação dos agentes designados pelas instituições de ensino junto às associações, federações e outras entidades ligadas à economia, além do poder público, para o fechamento de parcerias. O cronograma de trabalho deve iniciar em março de 2022.

A Plataforma de Inovação das Instituições Comunitárias de Santa Catarina é um ambiente dedicado à integração, apoio, prospecção e potencialização de ações das instituições de ensino superior que integram o sistema ACAFE, caso do COMUNG. A estrutura é responsável por identificar e prospectar as demandas e organizar os projetos, de forma integrada entre as instituições, respeitando a vocação, a autonomia e as particularidades de cada organização.

Reitores reforçam campanha por repasse de recursos ao ensino superior

À tarde, os reitores integrantes do COMUNG se reuniram para o debate de temas pertinentes às instituições de ensino superior, como a apresentação da Plataforma de Inovação das Instituições Comunitárias, resultado de parceria entre o COMUNG e a Associação Catarinense das Fundações Educacionais, ACAFE. O tema já havia sido abordado no encontro da manhã, e foi aprofundado com a presença dos reitores.

Outro assunto repercutido é a audiência com o governador do RS, Eduardo Leite, agendada para a próxima segunda-feira (29). Na pauta, estará a destinação de verba para a formatação de um programa de concessão de concessão de bolsas para que estudantes de baixa renda possam cursar o ensino superior. Conforme lei, 0,5% do orçamento deve ser destinado ao ensino público ou comunitário. Atualmente, o montante destinado é de cerca de 0,25%

A demanda do COMUNG, dessa maneira, tem base no artigo 201 da Constituição Estadual, que estipula a aplicação de meio por cento da receita líquida de impostos próprios na manutenção e no desenvolvimento do ensino superior público e no ensino superior comunitário. Nos últimos anos, de acordo com balanço financeiro do próprio Estado, o percentual não está sendo totalmente aplicado, gerando um déficit de investimento de 69 milhões de reais apenas em 2020.

O consórcio tem estabelecido tratativas com o governo do Estado e a Assembleia Legislativa. Na próxima segunda, a comitiva formada por grupo de reitores do COMUNG vai comparecer à audiência com o governo estadual.

Dentre outros tópicos, foi abordado, ainda, o aniversário de 25 anos do COMUNG. O lançamento de um vídeo comemorativo ocorreu na cerimônia de abertura do Fórum, realizada na noite desta quinta-feira, 25.

Foto: Claudia Velho.